Páginas

domingo, 26 de setembro de 2010

Indústria Química : Estudo estima que setor investirá US$ 32 bilhões em inovação até 2020

P&D na indústria química - Estudo estima investimentos no setor; e que "química verde" será 10% dos produtos petroquímicos
 
A indústria química brasileira poderá elevar seus investimentos para US$ 167 bilhões até 2020, aproveitando as oportunidades geradas com o crescimento da economia, com a expansão da indústria renovável, a reversão do déficit da balança comercial e a exploração do pré-sal. Além desses US$ 167 bilhões, o setor pode comprometer US$ 32 bilhões para as atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação (P,D&I), segundo estudo feito pelo economista e professor do Departamento de Engenharia da Produção da Escola Politécnica da (PRD-USP), João Furtado, para a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim). O estudo gerou um documento, o "Pacto Nacional da Indústria Química", apresentado pela entidade ao presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, em 18 de junho.
 
Inovação recuperou a notícia para detalhar o estudo da Abiquim. Em 2009, a indústria química faturou US$ 103,3 bilhões no Brasil, a nona posição no ranking mundial do setor. Em 2008, o setor gerou 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Se for considerado apenas o PIB industrial, a indústria química, com 10,3%, detém a terceira maior participação setorial, diz o documento. O Pacto apresentado a Coutinho tem 37 páginas e traz propostas para superar as barreiras que impedem a ampliação dos investimentos do setor. O documento identifica os obstáculos, quantifica os investimentos necessários e traz uma agenda de compromisso da indústria química para seu crescimento e de propostas de política pública que permitam atingir os números potenciais de investimento identificados por Furtado.
 
O documento prevê a aplicação de US$ 32 bilhões em P&D&I. "Desenvolver tecnologias, inovando em produtos e soluções avançadas para atender a demanda de outros setores e atividades" é um dos compromissos assumidos pelas empresas associadas à Abiquim por meio do "Pacto Nacional da Indústria Química".

Sobre P,D&I
Os US$ 32 bilhões em pesquisa, desenvolvimento e inovação corresponderiam a 1,5% do faturamento líquido do setor previsto para 2010-2020. O Pacto aposta em duas vertentes para trazer mais competitividade e crescimento para as empresas: o desenvolvimento de uma indústria de base renovável e o aproveitamento do potencial petroquímico do pré-sal.

O documento estima que, em 2020, a chamada química verde participará de, pelo menos, 10% do conjunto da oferta de produtos petroquímicos. A indústria química poderia investir US$ 20,3 bilhões nos setores agrícola, elétrico e nas centrais químicas, ou seja, na extração de sacarose, produção de nafta "verde", produção adicional de químicos básicos "verdes" e produção adicional de químicos de segunda geração, dos quais as resinas termoplásticas são exemplo.

O outro componente dos investimentos projetados é o aproveitamento do potencial do pré-sal. O setor poderia agregar valor às matérias-primas extraídas da exploração do petróleo e gás do pré-sal. Nesse quesito, o Pacto estima investimentos de US$ 15,1 bilhões nesta década para esse aproveitamento. Parte desses recursos pode ser aplicada em produção adicional de petroquímicos básicos e de segunda geração.

Mas o salto de produção sugerido nesses campos demanda os US$ 32 bilhões de investimento em P&D nos próximos dez anos. "Baseado na experiência acumulada pela indústria é possível antecipar que parte desse investimento será realizada em cooperação com instituições educacionais e de ciência e tecnologia, gerando um conjunto de conhecimentos e estruturas com potencial para contribuir em projetos que vão além aos aqui discutidos", destaca o texto.

Sugestões para P,D&I
Como sugestões para o apoio à inovação e desenvolvimento tecnológico, a Abiquim destaca a necessidade de dar apoio ao desenvolvimento de tecnologias avançadas, que alavanquem as vocações brasileiras, à pesquisa aplicada e à P&D pré-competitiva; ressalta ainda a necessidade de foco no desenvolvimento da "química verde", no fortalecimento da engenharia nacional e na formação em ciência e tecnologia. O documento lembra que as grandes empresas do setor químico e petroquímico são dotadas de fortes estruturas de P&D e contam com o apoio de instrumentos oferecidos pelos governos federal e estaduais, como a Lei de Inovação, os incentivos fiscais, a subvenção econômica, os financiamentos reembolsáveis da Finep e do BNDES e os recursos das fundações de amparo à pesquisa estaduais.

Apesar de reconhecer o apoio público para P&D, a Abiquim entende que é preciso aperfeiçoar algumas condições para que a indústria química desenvolva "plenamente o seu potencial inovador". Uma primeira sugestão é o aprimoramento do quadro legal, melhoria dos processos de análise e dar agilidade às liberações de crédito. Outra sugestão é ter uma ação agressiva para massificar a agenda de inovação, incluindo ações com foco nas pequenas e médias empresas. No caso da P&D pré-competitiva, a Abiquim defende o apoio à construção de plantas pilotos ou projetos de scaling-up, quando o processo de P&D chega ao estágio de testes em maior escala, pré-industrial ou mesmo industrial. Por fim, sugere a elaboração e execução emergencial de um programa que fortaleça a engenharia nacional e a formação em ciências aplicadas.

O documento destaca a importância do setor químico para o desenvolvimento da agropecuária nacional, que deixou de usar pacotes importados para utilizar soluções desenvolvidas no Brasil. "As principais empresas do setor químico são dotadas de competências tecnológicas robustas e vigorosas. Entretanto, existem centenas de empresas que ainda precisam desenvolver esses atributos, essenciais para que se atendam as demandas provenientes de diversos segmentos associados, como calçados, móveis, plásticos e vestuário, que claramente dependem das soluções inovadoras que a química pode oferecer", destaca o texto.

Projeção de consumo de produtos químicos
O consumo doméstico de produtos químicos, que é a soma da produção local (US$ 122 bilhões) com as importações (US$ 35 bilhões), menos o valor das exportações (US$ 12 bilhões), alcançou US$ 145 bilhões em 2008. O estudo estabeleceu alguns cenários de crescimento de PIB e de mercado e, para a projeção que indica um crescimento de 4% ao ano do PIB, calculou que o consumo doméstico adicional de produtos químicos seja de US$ 115 bilhões. "Analisando-se essas informações, há indicações de grandes oportunidades de investimento no setor químico associadas ao aumento do consumo doméstico e também à expansão das exportações", lê-se.

O estudo também aponta que, ao longo das duas últimas décadas, os investimentos setoriais mantiveram-se aquém das necessidades do País: a indústria química perdeu oportunidades, a produção nacional manteve-se abaixo das necessidades e da demanda, deixou de gerar empregos qualificados e não aproveitou integralmente as possibilidades de desenvolvimento tecnológico. "Como resultado, o déficit comercial de produtos químicos do Brasil cresceu de US$ 1,2 bilhão, em 1990, para US$ 6,6 bilhões, em 2000, alcançando US$ 23,2 bilhões, em 2008", aponta. A redução do déficit em 2009, projetada em US$ 15,7 bilhões, está relacionada à retração da atividade econômica mundial, por causa da crise econômica.

Com base nos vários cenários econômicos e projeções de consumo, o estudo calculou ainda que, para uma taxa média anual de 4% de expansão do PIB brasileiro ao longo desta década, seriam necessários investimentos de US$ 87 bilhões no aumento da capacidade de produção. Esse investimento seria apenas para acompanhar o crescimento da demanda interna por produtos químicos.

Caso se considere os investimentos necessários para mudar as condições do déficit comercial são estimados US$ 45 bilhões de investimento. Outros US$ 20 bilhões seriam aplicados no desenvolvimento de uma indústria de base renovável, e mais US$ 15 bilhões seriam direcionados para a agregação de valor e conteúdo industrial às matérias-primas extraídas do pré-sal.

Gargalos para o setor e outras propostas para o governo
O documento identifica problemas comuns a todos os setores industriais e que impactam a competitividade das empresas químicas. O País precisa assegurar condições adequadas à produção no que se refere à infraestrutura, preços de energia, tributação, juros e câmbio, diz o estudo. "A voz da indústria química, nesse caso, soma-se à de outros setores para afirmar a necessidade de encaminhar soluções robustas para cada um desses temas, de modo a solucionar aspectos problemáticos e impeditivos do crescimento, criando condições concorrenciais adequadas", consta no Pacto.

Mas, além desses problemas, a indústria química enfrenta outro gargalo que afeta algo essencial para sua competitividade: o acesso a matérias-primas em volumes, prazos de fornecimento e preços competitivos. "Esta é, sem sombra de dúvida, a principal limitação aos investimentos setoriais. Para que os investimentos possam ocorrer, o setor químico precisa dispor de matérias-primas em condições competitivas", alerta Furtado, na pesquisa.

Em relação ao comércio exterior, a Abiquim propõe que o País desenvolva agilidade na defesa do mercado interno contra subsídios, dumping e concorrência desleal, estimule a produção local e incentive as exportações para geração de superávit comercial, dê atenção ao câmbio e alinhe as políticas de comércio exterior com as de inovação. Para fortalecimento da cadeia de valor do setor químico, a associação sugere, por meio do documento, que o BNDES apóie a modernização do parque produtivo, oferecendo crédito para capital de giro, elimine as diferenças fiscais entre os produtos importados e entre os Estados, desonere e dê isonomia tributária à cadeia de valor. (J.S.)

Fonte: Mídia eletrônica: Agência de Inovação Unicamp - http://www.inova.unicamp.br/
 
 
 

3 comentários:

  1. Nossa impressionante como a indústria química tem poder! Mto boa....

    ResponderExcluir
  2. Sim, fabiana, a indústria química brasileira realmente, tem uma enorme receita, e o mais legal, eles pretendem investir muito recurso em inovações, isso foi garantido no documento chamada pacto da indústria química. Abraços.

    ResponderExcluir